Biografia Dr. José Carlos Prates
(Dr. Sydney Leão e Dra. Margarida Moraes, com informações do site da SBP- Galeria dos ex-presidentes e da entrevista que o Dr. Prates prestou a Dra. Margarida Moraes- em anexo)
José Carlos Prates Campos nasceu na cidade de Araxá, Minas Gerais, no dia 7 de março de 1929. Passou no vestibular em 1947 e formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em 1954 (ano de fundação da SBP, sociedade da qual o Dr. Prates se afiliou em 1956). Depois de formado, lecionou na Cadeira de Histologia. Em 1959, foi convidado para organizar e dirigir o Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital Felício Rocho de Belo Horizonte/MG. Transferiu-se para Ribeirão Preto como assistente da Cadeira de Patologia da FMRP da USP em 1963. Durante esse período, foi nomeado chefe do Laboratório de Anatomia Patológica da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais e estagiou no Serviço do Dr. Fritz Schajowicz, no Hospital Italiano, que na época fazia parte do Registro Latino-Americano de Patologia Ósteo-Articular em Buenos Aires (Centro Internacional de Referência da OMS para a classificação dos Tumores Ósseos). Em 1969, saiu do Depto. de Patologia da FMRP-USP para dirigir o Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital São Lucas de Ribeirão Preto/SP. Em 1972, junto com outros colegas, fundou o Clube dos Patologistas do Interior do Estado de São Paulo que, em 1975, se tornou a Associação dos Patologistas do Estado de São Paulo (APESP). Foi um dos fundadores da APESP; e foi presidente da APESP em duas ocasiões (1977-1978 e 1984-1985); e presidente da SBP entre os anos de 1983 e 1985; sendo nomeado sócio emérito da SBP em 1999. Durante muitos anos, exerceu a especialidade em seu laboratório particular (Laboratório Dr. Prates de Patologia Cirúrgica, ainda existente em Ribeirão Preto), tendo falecido em 2010, em Ribeirão Preto/SP.
Dr. Sydney Leão- É o atual (17º) Presidente da APESP (2019-2022)
Dra. Margarida Moraes- Foi a 4ª. Presidente da APESP (1984-1985), é uma das fundadoras da Associação e amiga do saudoso Dr. Prates
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Entrevista biográfica com o Dr. Prates
Pela Dra. Margarida Moraes
Fui agradavelmente surpreendida com a missão de coletar uma biografia do nosso colega Dr. Prates. Para tentar obter dados de sua vida que realmente possam contribuir
com lições que sirvam de apoio às novas gerações de patologistas, buscamos, além do convencional, respostas associadas à nossa difícil prática profissional.
Um pintor japonês que viveu entre os séculos 18 e 19, Katsuhika Hokusai, tece um comentário a respeito da idade. Depois de falar sobre o início, ele chega aos anos de maturidade, quando atinge a plenitude da sabedoria.” Aos 90 penetrarei no mistério das coisas; aos 100 terei chegado a um grau de maravilhamento e quando eu tiver 110 anos, para mim seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo.”
Dr Prates é ainda muito jovem para ter entrado no mistério das coisas, mas pode nos falar de suas maravilhosas experiências.
MM: Você dizia que nasceu de um brilho no olhar do seu pai e de sua mãe. Conte-nos sobre seus pais, seu nascimento, sua cidade natal. Fale-nos de sua infância, das pessoas que mais influenciaram o seu desenvolvimento na infância, das alegrias e das tristezas dessa fase. Conte-nos sobre sua família, seus irmãos.
JCP: Foi no dia 7 de março dos idos de 1929 que nasci na cidade de Araxá, Minas Gerais, para onde meu pai havia sido nomeado prefeito (naquele tempo os prefeitos eram nomeados pelos presidentes dos Estados).Quando eu tinha menos de um ano de idade, contudo meu pai se demitiu da prefeitura e voltou para Belo Horizonte, onde vivia a nossa família.
A minha infância foi tranqüila e sem percalços até a morte precoce de meu pai aos 37 anos de idade quando ocupava o cargo de Secretário de Saúde do Estado de Minas Gerais. Na época eu contava 9 anos de idade. Daí em diante, apesar das mudanças que a nossa vida sofreu e graças à extraordinária personalidade, coragem e competência para a vida demonstradas pela minha mãe ,meus irmãos e eu pudemos continuar a nossa educação até nos formarmos na Universidade.
Pouco depois da morte de meu pai minha mãe começou a dar lições particulares de canto e piano alem de ocupar o cargo de professora da disciplina de música no Colégio Estadual e posteriormente também no Colégio Municipal.
Aqui quero assinalar que minha mãe foi uma excelente musicista: lembro-me de quando voltava da escola quando criança, encontrava minha mãe ao piano estudando ou tocando sonatas de Beethoven ou os prelúdios de Chopin que ela tocava muito bem. Um deles, até hoje quando ouço, o número 15, me traz reminiscências das tardes da minha infância.Por isto desenvolvi o gosto pela audição da música dita clássica. Já depois de maduro ensaiei um aprendizado de flauta doce, tendo participado de um conjunto formado por amadores em Ribeirão Preto que se intitulava “Menestralia” e se dedicava à execução de músicas medievais e renascentistas.
Por me ter legado esta sensibilidade acredito que minha mãe foi a pessoa que mais marcou a minha infância e esta influência Freud não explica.
Quero deixar registrado, nesta fase, o meu curso pré-primário no “Jardim de Infância Bueno Brandão, onde fui aluno de Dona Dagmar que um dia correu atrás de mim na sala de aula para me repreender por eu ter roubado um beijo de uma colega de classe.
MM: Agora vamos para a adolescência: seu curso secundário, sua decisão de estudar Medicina, seu encontro com D. Maria Lúcia. Além de seus estudos de formação profissional, que outros interesses foram despertados nesta fase? Fale dos livros que lia, de seus gostos artísticos e de quem foram seus amigos mais chegados.
JCP: Cursei o segundo grau no Colégio Marconi de Belo Horizonte onde tive bons professores como Heli Menegale em português, Arthur Versiani Veloso em Filosofia, Monsieur Donnard em francês e tantos outros. Terminando o curso secundário
fui prestar vestibular na Escola de Engenharia pois, não sei porque, estava determinado que eu seria engenheiro. Na época os vestibulares constavam de provas escritas e orais de todas as matérias e as provas orais eram públicas. Lembro-me que, na prova oral de Física, ao ser chamado para a lousa e escrever o enunciado do problema que deveria resolver, dirigi-me ao examinador chefe da banca(eram três) e pedi para cancelar meu nome do concurso vestibular pois não era aquilo que queria para meu futuro.Ao passar, na volta da Escola , pela “república” onde moravam meus amigos mais chegados,um deles que era estudante de engenharia me perguntou como eu me saíra na prova e respondi: ”La Comedia é Finita”!
Perdi então este ano e o próximo, pois não resolvera que destino tomar.Na realidade não os perdi, pois foram os anos em que mais me interessei pela leitura de boa literatura ,passando dias sem sair de casa lendo os três volumes do” Dom Quixote”,os 5 volumes de “Jean Christophe” de Romain Rolland, além de Dostoievsky,Tolstoi, Balzac, Machado de Assis ,Jorge Amado, enfim, o que de bom me caisse nas mãos eu lia.Dedicava também o tempo para ouvir música e bater papo com meus amigos mais íntimos que na época eram o Ernesto Walter (falecido anos depois como professor da Universidade de Brasília) e o Helio Silva, com quem perdi o contato há muitos anos mas sei que se dedicou ao cinema, tendo sido o fotógrafo do primeiro filme do diretor Nelson Pereira dos Santos: ”Rio 40 Graus”.
Foi neste período que num dia em que voltava com um amigo do jornal comunista chamado “Jornal do Povo”, que nós encontráramos “empastelado” pela polícia, passando pela praça ao lado do apartamento da Maria Lúcia, lá estava ela sentada num banco lendo “Pigmalião” de Bernard Shaw. Depois que fui apresentado a ela senti que algo de novo acontecera comigo e que teria de encontrar uma definição para meu futuro. Depois de alguns dias criei coragem e fui declarar a ela o que sentia. Ela me pediu um prazo-que não foi muito longo-e concordou.Foi assim que nasceu uma união que durou 50 anos e resultou em 5 filhos e 8 netos.
Mas, voltando àquela época, decidi que gostaria de estudar Medicina por ser uma carreira mais ligada a uma atividade humanística e mais de acordo com o meu jeito de sentir o mundo.
Tomei algumas aulas particulares de Química e Física e prestei o vestibular em 1949 tendo me formado em 1954 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (coincidentemente o ano em que foi fundada a Sociedade Brasileira de Patologia, da qual me tornei sócio dois anos depois).
MM: Conte-nos sobre os seus primeiros anos de contato com a Patologia. Quem foram seus professores e os colegas que mais o influenciaram na época.
JCP: Na época em que estudei na Faculdade não havia ainda residências organizadas nas diferentes disciplinas. Ao chegar no 4º ou 5º ano o aluno tinha que fazer uma opção e procurar se situar em algum serviço especializado para estagiar na especialidade escolhida. Quando frequentava o 4ºano achei que queria ser cirurgião e procurei o Dr Mello Alvarenga (pai do Dr Roberto Alvarenga) que era cirurgião e o Diretor do Pronto Socorro Municipal. Ele achou que ainda era cedo para me especializar e me levou para o laboratório clínico do Hospital São Lucas de Belo Horizonte, onde trabalhava o Dr Julio Junqueira, irmão do Dr.Moacir de Abreu Junqueira que chefiava, há muito tempo, o Serviço de Anatomia Patológica da Santa Casa de Misericórdia que ,neste tempo era o maior laboratório particular do Estado.Foi então que o Dr Julio me convidou para estagiar no Laboratório de Patologia da Santa Casa, pois o Dr Roberto havia se formado e estava de partida para os Estados Unidos. Fui e tomando contato com a Patologia Cirúrgica percebi que o exercício desta especialidade dava uma visão geral da Medicina já que a Patologia trata do estudo da doença desde suas causas, passando pelos seus mecanismos para chegar ao diagnóstico e, além disto, o Dr. Moacir Junqueira era um excelente diagnosticista com uma magnífica base clínica. Seu laboratório era freqüentado durante quase todo o período da manhã pelos clínicos e cirurgiões especialistas, dermatologistas, ginecologistas, neurocirurgiões, gastro-enterologistas, etc, que iam discutir com o Dr Moacir os casos mais intrigantes.Assim nós, os aprendizes, tínhamos quase que diariamente uma aula interativa de correlação clínico-patológica em diferentes setores da patologia diagnóstica. Isto durante dois anos foi de muita valia para nossa atuação futura.
Quanto ao que senti ao me formar e iniciar a minha carreira profissional eu diria que foi confiança e isto eu devo também ao Dr Moacir Junqueira.Quando estava para terminar o 6º ano, certo dia disse ao Dr Moacir que gostaria de saber se eu estava preparado para enfrentar a vida profissional. Ele respondeu: ”pois não, vou tirar quinze dias de férias e você toma conta do laboratório” e se foi.Nesta época o laboratório fazia cerca de 12000 exame por ano. Trabalhei 12 horas por dia para dar conta do recado e quando ele voltou, eu havia deixado apenas dois casos para que ele conferisse os diagnósticos: um não havia dúvida, era um Comedocarcinoma invasivo da mama que o cirurgião quis, com todo o direito, ouvir a opinião do Dr Moacir e o outro era um Sarcoma anaplásico que ficou sem definição da sua origem (talvez hoje pudéssemos saber com o auxílio da imuno-histoquímica).
Você me pergunta sobre os meus sonhos naquela ocasião. Eu nunca tive sonhos e nem persegui objetivos de carreira. Escolhi uma profissão e dentro dela uma especialidade em que me senti seguro e procurei exercê-la com seriedade, dedicação, humildade diante do meu pouco saber e sempre tendo como prioridade o diagnóstico correto, mesmo quando tinha que consultar colegas mais experientes, tendo sempre em vista o benefício do paciente.
MM: Em que cidade residia? Quais os costumes dos jovens como você naquela época e o que mais os interessava? Tinham outras preocupações, além das científicas?
JCP: Residia em Belo Horizonte e quanto aos costumes dos jovens daquela época não sei dizer, pois então eu me dedicava quase que exclusivamente ao trabalho e à família.
Meu lazer era freqüentar o clube com a família nos fins de semana e, no mais, ler e ouvir música.
MM: Quantos anos foram necessários para você se sentir confortável no desempenho de sua profissão e quais foram suas maiores dificuldades?
JCP: Confortável na profissão eu me senti desde o começo, pois sempre gostei do que fazia e procurei sempre desempenhá-la com honestidade, desprendimento e autocrítica.
Quanto às dificuldades foram muitas e continuam existindo até hoje tanto no que respeita à necessidade de atualização do conhecimento - que está cada vez mais difícil – e também em áreas como a do relacionamento com os colegas que necessitam da nossa colaboração como médicos, mas não percebem que quando enviam uma biópsia ou uma peça cirúrgica para exame estão fazendo uma interconsulta e por isto devem fornecer toda a documentação clínica ao patologista.Por sua vez o patologista deve ter consciência da importância clínica daquilo que ele deve responder ao colega que o consulta e não se ater apenas à descrição morfológica macro e microscópica. Assim como o Clínico e o cirurgião deveriam conhecer os problemas da patologia das doenças que têm que tratar, também o patologista deve ter conhecimento das manifestações clínicas das doenças que produzem as alterações morfológicas que eles devem diagnosticar aos exames macro, microscópico ou com auxilio de técnicas especiais como a imuno-histoquímica. A interpretação dos achados morfológicos e das técnicas especiais devem corresponder sempre a um contexto clínico-patológico sem o que correremos o risco de cometer erros ou dar diagnósticos evasivos e, portanto, inúteis para o paciente.
MM: Os primeiros anos de profissão começaram em que lugar? Como foi a seqüência.
JCP: Em Belo Horizonte e inicialmente no Hospital São José onde fui apresentado pelo Dr. Moacir Junqueira. Posteriormente fui convidado a montar o Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Felício Rocho, para onde me transferi em 1959.Para lá me acompanhou o nosso colega Dr Hugo Silviano Brandão que tendo recebido uma bolsa para estagiar no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, para lá se transferiu como docente.Depois de ter visitado o Dr Brandão em Ribeirão Preto, ao voltar para Belo Horizonte, recebi um convite para também mudar para Ribeirão Preto como docente contratado do Departamento de Patologia chefiado então pelo Prof Fritz Köberle e foi o que fiz em agosto de 1963 e não me arrependo, pois aqui tive a oportunidade de alargar meu horizonte profissional na convivência com colegas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, na prática acadêmica, no ensino, na pesquisa e em reuniões clínico-patológicas com os diferentes departamentos da faculdade.
MM: Aqui fica um espaço para você falar de seu casamento, de sua mulher, como ela atuou na sua vida profissional, de seus filhos e de seus netos.
JCP: Já referi o meu primeiro encontro com a Maria Lúcia. Durante toda sua vida, mesmo cuidando com muito carinho e sabedoria dos 5 filhos ela nunca deixou de se dedicar à tarefa de educadora e orientadora, sendo lembrada até o fim de sua vida por seus alunos, mesmo por aqueles que já adultos e pais de família,foram seus alunos na adolescência. Sua dedicação à educação e ao ensino, ao lado dos cuidados com a família foram os únicos motivos da sua vida. Apesar disto não hesitou nem um momento ao me acompanhar para Ribeirão Preto, deixando os cargos que exercia em Belo Horizonte de Vice-Diretora do Colégio Municipal e titular da cadeira de Inglês do Colégio Estadual. Em Ribeirão Preto ela se sentiu novamente em seu meio ao ser convidada para professora de Inglês quando da Fundação da Faculdade de Filosofia da USP e depois que, junto com mais dois ou três casais de amigos- que tinham filhos da idade dos nossos-criamos o Colégio “Pequeno Príncipe” em Ribeirão onde ela foi uma das diretoras e orientadora educacional para o resto de sua vida. Hoje o Colégio e é um dos mais prestigiados de Ribeirão Preto.
Ter tido a Maria Lúcia como companheira por todos estes anos foi, sem dúvida, um dos maiores privilégios da minha vida.
MM: Sabemos dos seus anos na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, porque tivemos o privilégio de ser sua aluna, durante o terceiro ano do curso médico. Fale-nos de sua experiência na universidade. O que o atraiu para a vida acadêmica? Quais as maiores lições que esta vida lhe deixou?
JCP: Não sei o que me atraiu para a vida acadêmica. Na verdade não permaneci muito tempo nela. A vida acadêmica implica em muita disciplina que não é uma das minhas virtudes.
Quanto às lições que a vida me deixou encontrei-as nestes versos de Ricardo Reis: ´´Para ser grande, sê inteiro:
Nada Teu exagera ou exclui.
Sê tudo em cada coisa.Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim, em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive. ``
MM: Seguimos para a sua vivência da Patologia na vida prática. Só como uma brincadeira vou me lembrar aqui que alguns colegas dividiam a patologia em: Universitária e Monetária. Quais seus sentimentos em relação aos aspectos das duas situações?
JCP: Não vejo a prática profissional como uma atividade com fins financeiros. Acho que a remuneração pelo serviço prestado é uma conseqüência dele e não o seu objetivo. Acho que o bom profissional “põe o que ele é no mínimo que faz” com ou sem remuneração.
O espírito e o rigor científicos podem e devem ser exercidos tanto no ambiente universitário como na vida profissional. Um diagnóstico do patologista, muito freqüentemente, para ser útil à conduta clínica correta num determinado caso, deve ser uma investigação que leva em conta vários parâmetros, inclusive multidisciplinares, não se limitando apenas ao reconhecimento de um quadro morfológico. Recuso-me a ser apenas um leitor de lâminas.Sempre que possível o patologista deve se esforçar para diagnosticar a doença que acomete o paciente, mesmo porque as alterações que caracterizam a doença principal nem sempre estão representadas na lâmina.
MM: Quais os títulos que possui?
JCP: Como disse, não fiquei muito tempo na carreira acadêmica e por isto não possuo títulos formalmente recebidos.Vivi, contudo, situações na Universidade que para mim representam títulos como ter participado de bancas examinadoras de concursos de mestrado e doutorado sem ter estes títulos, por aprovação de indicação feita à Congregação da Faculdade; por ter sido convidado a participar de aulas em cursos de pós graduação e para residentes.Alem disto publiquei alguns trabalhos ainda como docente e mesmo depois de deixar a Universidade e participei com trabalhos em vários Congressos da nossa especialidade.
Outros títulos extra-acadêmicos que aprecio são os de ter sido o idealizador e um dos fundadores da APESP (Associação dos Patologistas do Estado de São Paulo) e Presidente da SBP, tendo recebido o título de Sócio Emérito da nossa Sociedade em 1999.
MM: Como é o seu trabalho hoje? Quantas horas? Como divide o seu dia? Quais assuntos que mais lhe interessam?
JCP: O meu trabalho hoje se resume a responder consultas de colegas que ainda procuram e confiam na minha ajuda e a participar, quando solicitado pelos meus colegas, na solução de casos em nosso laboratório.
Não tenho número de horas estabelecido para o meu trabalho. Em geral permaneço no laboratório de oito ao meio dia e de duas às cinco da tarde.
Tenho particular interesse pelas neoplasias do esqueleto por ter tido a oportunidade de estagiar com o Dr. Fritz Schajowicz em Buenos Aires quando o seu Serviço, no Hospital Italiano, era o Centro Internacional de Referência da OMS para a classificação dos Tumores Ósseos.
MM: Além da patologia quais outras áreas despertam seu interesse? Na medicina, na arte?
JCP: Acho que já ficou claro o meu interesse pela música embora eu não tenha nunca me dedicado a estudá-la. Sou um bom ouvinte. Agora mesmo enquanto escrevo estou ouvindo Horowitz tocando Mozart.
Na Medicina acho que a Patologia engloba todo o universo desta ciência humana embora o seu desenvolvimento exija hoje a especialização.
MM: Cite um autor de sua preferência. Quais os livros que mais o tocaram. Qual sua cor preferida? JCP: Entendo que você pergunta sobre literatura e respondo então às duas perguntas:Cervantes com o “Dom Quixote” (eu chorei quando Dom Alonso Quijano morreu). Outro autor que me tocou, alem de muitos outros foi João Guimarães Rosa com“Grande Sertão Veredas” e “Tutameia”. Neste último livro há um conto com um trecho muito atual sobre a convivência entre os homens, atribuído a um compadre imaginário que diz: ”a convivência de um ser humano com outro ser humano é impossível. O que vemos é apenas milagre, salvo melhor raciocínio.”
Quanto à minha cor predileta é o amarelo pois esta nós daltônicos não confundimos.
MM: Quais os conselhos que pode dar a um jovem patologista?
JCP: Estudem sempre, frequentem bibliotecas, Congressos, Seminários, em fim, atualizem-se constantemente. Invistam sempre em seu progresso profissional.
MM: Como você entende hoje a sua vida?
JCP: Eu a entendo dentro do sentido do verso de Carlos Drummond de Andrade em um poema que ele escreveu para um amigo que completava 70 anos: “os setenta anos são aquele tempo em que estamos viajando entre o já foi e o não será”. Como vou completar os 75, creio que já estou mais para o não será. Apesar disto ainda aprecio o meu trabalho embora reconhecendo que devo ceder progressivamente o meu lugar para os mais jovens.
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